O ano de 1989 teve um verão atípico na Inglaterra: uma forte onda de calor fez com que as temperaturas passassem dos 30 graus com freqüência em diversos pontos de todo Reino Unido.

O calor era pano de fundo para uma sociedade em plena transformação, com uma economia aquecida e mudanças globais como a ruína do bloco soviético agindo como combustíveis para colocar o país em verdadeiro êxtase. Foi neste cenário que o Acid House – que já há alguns anos tomava conta do norte do país a partir de Manchester – explodiu através de festas ilegais, clubes em diversas cidades e com muito, muito Ecstasy (o suficiente pra fazer com que até mesmo os temidos Hooligans fizessem as pazes). O emblemático verão de 1989 abriu as portas para a assimilação definitiva da cultura “clubber” no Reino Unido, e às vésperas de completar 25 anos, este ótimo documentário da BBC mostra em detalhes o ano que mudou a Inglaterra – e que iria espalhar efeitos sobre vários outros países num futuro próximo, inclusive o Brasil.

Axel Boman foi uma das boas surpresas que tive em 2013: além de “Family Vacation” ser um ótimo álbum, vasculhar o passado do produtor mostrou um enorme talento, daqueles capazes de preencher o chavão do músico que “manda bem em estilos diferentes”.

Quando John Talabot (um dos meus artistas favoritos há algum tempo) incluiu uma parceria entre ele e Boman na sua compilação lançada pela DK Kicks – a ótima track Sideral aí de cima – parecia que alguma coisa muito boa estava vindo, e pelo jeito ela vem mesmo: o projeto “Talaboman” faz sua estreia ao vivo no próximo dia 12 de junho, em evento que o Resident Advisor faz no off-Sonar. Aceito contribuições pra viagem à Catalunha!

Não é a primeira vez e não será a última que um produtor talentoso e conhecido dos ouvidos mais atentos (e curiosos) das pistas e da música eletrônica vai trabalhar com um gigante da música pop – Stuart Price sempre me vêm à cabeça nessas horas como o responsável por um dos melhores álbuns que Madonna já fez.

Mas em tempos em que a dita “EDM” parece só ter buzinas e barulhos a acrescentar para o que se entende por música pop hoje, é um alento ver Jon Hopkins e o Coldplay apresentarem um trabalho sutil, bem elaborado e carregado de emoção. Chatos (invejosos e os militantes do underground  incluídos) dirão que a faixa nem é tão boa e que os fãs da banda inglesa vão torcer o nariz.

Não dê ouvidos pra eles: escute a ótima Midnight como se não importasse quem fez (porque no fim, não importa mesmo) e veja se a boa música eletrônica não dá de goleada na EDM quando se quer fazer música soar bem aos nossos ouvidos:

Depois de reativar o site www.deepdish.com e nele agendar para 29 de março um suposto (e muito comentado) retorno, agora o Deep Dish lançou um trecho do que seria seu primeiro lançamento após a volta.

Muitas perguntas seguem no ar, mas ao que tudo indica Dubfire e Sharam realmente voltarão a responder como Deep Dish em 2014. Se a parceria será para apenas uma turnê, se irá envolver singles ou um álbum ou se o lendário selo Yoshitoshi também vai entrar na nova onda, são incógnitas – logo, tampouco se sabe quando a dupla se apresentará no Brasil.

Confira o teaser de “Quincey”, lançado hoje (12 de fevereiro):

Um ditado holandês diz que “Deus criou o mundo, e os holandeses, a Holanda”. O conteúdo aparentemente simplista e até um pouco arrogante da frase resume centenas de anos de uma obstinação implacável de um povo na sua missão de ocupar um território muito hostil ao homem. Contrariando toda a lógica e até mesmo algumas leis da física, os habitantes dos “Países Baixos” não apenas conseguiram controlar as correntes marinhas que constantemente alagavam boa parte de seu território com um engenhoso e eficiente sistema de drenagem, como também construíram uma das nações mais ricas do planeta – e por riqueza, aqui, não se entenda apenas Euros.

Liberdade, ou mais precisamente, tolerância, são provavelmente os maiores e mais tradicionais patrimônios holandeses (talvez ao lado da habilidade pros negócios): antes mesmo do país nascer, as Casas de Orange e Nassau já se notabilizavam pela tolerância religiosa em um tempo em que o catolicismo punia com a fogueira aqueles que não seguiam os seus preceitos. A permissão do exercício de religiões protestantes e a incomum aceitação às diferenças quase custaram o próprio nascimento do país, e acabaram moldando fortemente a cultura local. Pode soar um exagero, mas se hoje a Holanda é notória por suas políticas liberais em relação a assuntos (atualmente) polêmicos como as drogas e prostituição, é porque através do tempo se sedimentou lentamente todo um entendimento dos benefícios da tolerância, e que teve início há  muitos séculos (para saber mais sobre o assunto, esta é uma ótima leitura).

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Não é difícil imaginar que a música eletrônica encontrou na Holanda um cenário dos mais favoráveis, e desde que a cultura das pistas começou a se espalhar pelo mundo os holandeses a abraçaram como poucos: artistas destacados, público grande e fiel e marcas mundiais foram solidamente construídos no país nos últimos 25 anos. O ponto central de todo este movimento: a capital Amsterdam. E hoje, quando a música eletrônica passa por sua fase de maior expansão, os holandeses parecem mais dispostos que nunca a apostar alto no estilo.

A maior prova disso atende pelo nome de A’DAM. A abreviação de “Amsterdam Dance and Music” é também um curioso trocadilho com o nome da cidade e a figura bíblica de Adão (Adam em inglês e holandês) e dá nome a um complexo que está sendo construído ao norte da capital do país, às margens do lago IJ. O projeto consiste na reforma da torre de Overhoeks,  erguida em 1969 e uma das mais altas construções de Amsterdam. O edifício foi utilizado pela petrolífera Shell por décadas, a ponto dos habitantes da cidade ainda o chamarem de “Shell Tower”, e com a sua desocupação em 2009 e transferência da posse à Prefeitura de Amsterdam, esta optou por abrir uma concorrência em 2012 para decidir seu novo destino (durante a ADE 2013, o lobby do prédio recebeu uma festa do clube D-Edge, o que pareceu uma boa prévia do seu futuro).

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Entre mais de 30 projetos e propostas enviados para mudar o local o vencedor foi uma espécie de complexo dos sonhos pra amantes de música eletrônica: distribuídos nos mais de 20 pavimentos do edifício estão sendo feitos um clube, um bar 24 horas, um hotel boutique, estúdios de produção musical, um restaurante, espaços de trabalho e co-working destinados à profissionais da economia criativa, uma academia e até mesmo uma piscina. Os nomes dos espaços dão continuidade ao trocadilho bíblico: o bar da cobertura se chama “Heaven”, o clube do sub-solo “Hell”, com saída para os jardins de Tolhuistuin, que farão o papel de “Eden”, além de uma área para shows já existente chamada de “Paradiso”.

Por trás do projeto:  a gigante ID&T,  uma incorporadora holandesa chamada Lingotto, o clube local AIR e a Massive Music. Duncan Stutterheim, um dos fundadores da ID&T, disse que a empresa “veio de ‘Amsterdam Noord’, por isso é muito importante dar algo de volta para a cidade. Para a comunidade empresarial, a comunidade do entretenimento, a comunidade dos músicos e para toda a comunidade criativa”. A ideia principal por trás do complexo é criar um “hub criativo” em torno da música eletrônica e ao mesmo tempo impulsionar a revitalização do norte da capital do país: vizinho à torre já está o EYE Film, mistura de museu e instituto de cinema nacional.

Tantos trocadilhos e ditados envolvendo religião poderiam causar polêmica ainda hoje em alguns lugares. Na Holanda, entretanto, a tolerância parece ter trazido consigo não apenas bom humor pra tirar isso de letra, como principalmente, uma criatividade impressionante – há muitos séculos.

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As obras da A’DAM começam em junho deste ano e devem ser entregues em 2015 – clique nas imagens para vê-las em tamanho maior.

Saiba mais sobre o projeto no site oficial: http://adamtoren.nl ou na página do Facebook https://www.facebook.com/adamtoren2015.

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Música e futebol caminham juntos há bastante tempo. O fascínio e a paixão que ambos são capazes de exercer nas massas parece ser o elemento comum mais evidente, e ao longo do tempo esta proximidade rendeu imagens históricas como a de Bob Marley calçando chuteiras , times como o Polytheama, do qual Chico Buarque é o dono e principal jogador, e adaptações do clássico “Love Will Tear Us Apart”, do Joy Division, cantadas a plenos pulmões por torcedores do Manchester United num lotado Old Trafford:

Solomun, DJ, produtor, dono do selo e um dos nomes mais destacados da música eletrônica hoje, está dando seqüência a esta tradicional relação de um jeito curioso: seu selo DYINAMIC é o atual patrocinador da equipe juvenil do Hamburg-Eimsbütteler Ballspiel-Club, time de futebol em que ele mesmo jogou quando era criança.

Na foto abaixo, os atletas alemães vestindo o uniforme com o logotipo do selo estampado na camisa (e o próprio Solomun “apadrinhando” a equipe):

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Pete Tong é uma das figuras mais emblemáticas da música eletrônica: o DJ e produtor britânico deve boa parte de sua fama à apresentação do Essential Mix, programa de rádio que vai ao ar todos os sábados à noite ininterruptamente há mais de 20 anos na Radio 1 da BBC, estatal de comunicação inglesa. Pete já batizou até um filme , “Its All Gone Pete Tong”, sátira à indústria da música eletrônica lançada em 2004 e que no Brasil recebeu o sofrível nome de “Ritmo Acelerado”. Se você ainda não viu, procure e assista: Carl Cox e o próprio Pete Tong interpretando a si mesmos e diversos estereótipos de personagens comuns na indústria da música rendem boas risadas.

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Na passagem de 2013 para 2014, Pete ganhou uma surpresa: foi condecorado como membro da “Ordem do Império Britânico”, tradição instituída pelo Rei Jorge V em 1917 e destinada à civis e militares pelos seus serviços prestados ao Reino Unido. Outros DJs como Norman Jay e David Rodigan já foram outorgados com a honra real. Tong se disse honrado e feliz pela alegria que sua mãe sentirá com a notícia.

É possível assistir “Its All Gone Pete Tong” no link abaixo:

 

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Está em andamento a “Global Drug Survey” de 2014, em tradução literal a “Pesquisa Global sobre Drogas”. A iniciativa acontece há mais de 10 anos e é conduzida por uma organização baseada na Inglaterra composta por profissionais de diversas áreas: de médicos a especialistas em sociologia e geopolítica, todos trabalham com o intuito de clarear e deixar mais seguro um campo onde sobram preconceitos e clichês e faltam muitas informações.

O funcionamento da pesquisa é relativamente simples: usuários que têm seu anonimato garantido respondem à uma série de perguntas online. Depois, todos os dados são estudados e as informações coletadas são capazes de gerar dezenas de relatórios e pesquisas, que podem demonstrar desde preços em determinadas regiões até as dosagens recomendadas ou não para cada tipo de droga.

Qual a utilidade disso? A resposta é simples: informação, o que pode ser o detalhe que separa uma noite divertida de uma experiência terrível que pode levar à morte pessoas que não possuem conhecimento sobre como e o que estão consumindo. Só em 2013 dezenas de casos de mortes ligadas ao consumo excessivo ou mal orientado de drogas foram relatados nos Estados Unidos, levando até mesmo ao cancelamento de um grande festival em Nova Iorque. Casos de abuso de drogas são comuns, e na imensa maioria das vezes a falta de informação é fator determinante neles.

Ciente do valor que a informação possui neste contexto, a sociedade inglesa dá uma grande aula de como se portar diante de questões relevantes e que são, de alguma forma, cercadas de tabus: enfrentando-as com inteligência e coerência suficiente para deixar preconceitos de lado e focar no que realmente importa. Veículos como a publicação Mixmag e um dos jornais mais populares da Inglaterra, o The Guardian, colaboram na pesquisa, divulgando-a e publicando seus resultados (fora da Inglaterra, o Huffington Post também apóia a pesquisa).

Que uma revista como a Mixmag se envolva é louvável mas também esperado, afinal de contas os ingleses podem ser chamados de pais da “cultura clubber”, cenário onde o uso recreativo de drogas é bastante comum. Olhar pelo bem estar do seu próprio público é um passo natural de quem quer dialogar com ele.

Mais louvável ainda, entretanto, é a participação do Guardian. Jornal tradicional de circulação diária e integrante de um dos maiores grupos de comunicação do Reino Unido, o periódico adota há três anos uma postura de dar inveja aos seus pares midiáticos ao apoiar a pesquisa. A mensagem do Guardian é clara à sociedade: ele não é omisso na prestação de informações que considera relevantes à ela, sejam estas informações tabus ou não. E, neste caso, saber quais drogas as pessoas estão consumindo e fornecer informações que podem tanto ajudá-las no consumo consciente, como no tratamento, é uma informação relevante. Afinal de contas, além dos usuários elas podem fornecer dados preciosos às autoridades médicas, bem como à estudos sociais ligados ao comportamento do consumo. Resumindo: informações fazem toda a diferença quando o assunto é drogas.

O consumo de substâncias entorpecentes de forma recreativa é um fato: no Brasil, na Inglaterra ou em qualquer país do mundo, ele vai acontecer. Seja nas bebedeiras socialmente aceitas (muitas vezes socialmente estimuladas) da droga que é o álcool, seja nos embalos de drogas ilícitas em ambientes com música ou sem ela (qualquer que seja ela).

Contudo, reconhecer um fato tão simples parece ser mais um dos incontáveis desafios que a sociedade brasileira (a mesma que ainda sofre com as inconcebíveis mortes causadas por motoristas embriagados) ainda não está “preparada”. Quanto mais demorarmos pra fazê-lo, mais prejuízos teremos.

Se você quiser participar da iniciativa, acesse este link e responda ao questionário: http://www.globaldrugsurvey.com/GDS2014/ (há uma versão em português disponível).

Sugerir o link e a “Global Drug Survey” para as pautas de seu jornal ou meio de comunicação preferido também pode ajudar!

Giorgio Moroder se tornou uma lenda da história da música ao introduzir um novo uso para os sintetizadores nos anos 1970. O clássico “I Feel Love” de Donna Summer foi um dos hits responsáveis por eternizar o nome do italiano. Recentemente Moroder voltou à tona, colaborando no novo álbum da dupla francesa Daft Punk e fazendo até sua primeira gig como DJ.

Ele vem se tornando presença constante em palestras, conferências e eventos como o IMS (Ibiza) e ADE (na qual esteve nesta semana), e agora, divulgou mais uma novidade – que aparentemente não irá agradar tanto assim seus fãs. A faixa autoral foi divulgada no Soundcloud de Moroder – e depois retirada. Seria o Giorgio de 36 anos atrás melhor do que o de 2013?

Faz tempo que muita gente aposta suas fichas num retorno arrebatador da Disco Music: entre 2010 e 2012 inclusive parecia bem claro que isto estava acontecendo quando as Magic Tapes do The Magician, os mixes e remixes do Aeroplane e e as inúmeras releituras nórdicas pro gênero estouravam, mas os “novos” Deep House e Garage pareceram freiar um pouco a onda – o que não impede que continue saindo muita coisa de primeiríssima nessa praia.

Em 2013 um dos grandes nomes  a seguir essa cartilha e que vem fazendo sons da melhor qualidade é o Du Tonc, dupla formada pelo australiano Matt Van Schie (do Van She) e pelo inglês do Mighty Mouse. Eles conseguem trazer material original  ao universo do “Nu Disco”, com quatro irretocáveis músicas autorais lançadas este ano (Rise, Darkness, Surging Memories e a recente Island – lançada esta semana)  além de uma Mixtape novinha também. Tudo disponível no SoundCloud, YouTube e lojas de música digital.

Se você gosta de Flight Facilities, Tiger & Woods, Classixx e os artistas já citados no post, muito provavelmente vai gostar de Du Tonc! Abaixo o clipe de “Darkness”: